Andre havt / New York / October 2024

Nova York me fascina há anos. Desde a minha adolescência, quando me perdia aleatoriamente em suas ruas fotografando com minha Pentax ME Super, até hoje observando a frenética dança de culturas e estilos pelas lentes do Iphone.  Esse lugar sempre me encantou. A cada esquina, você esbarra com uma quantidade acachapante de arte, tecnologia, arquitetura, música, moda e uma diversidade cultural pujante dificilmente encontrada em outro lugar do planeta. 
Mas, paradoxalmente, enquanto a cidade que nunca dorme se renova a cada instante, oferecendo um banquete visual inigualável, as pessoas parecem cada vez mais isoladas em seus pequenos mundinhos. Ironicamente em meio a tanta exuberância, todos estavam cada vez mais cegos para a beleza que os cerca. A mesma Manhatan que sempre me inspirou a olhar incansavelmente para todos os lados, me fez testemunhar a cena repetitiva de olhares fixos na tela do celular. Um triste espetáculo: o da desconexão humana, onde pequenos aparelhos luminosos se sobrepõem à grandiosidade da metrópole.
Diante desse estranho contexto, resolvi registrar esse universo de pessoas sem olhar. Sem presente e sem presença. Em alusão à obra distópica de José Saramago, dei o nome a esse ensaio fotográfico nada distópico.
Blindness: Ensaio Sobre a Cegueira.

Nesse mundo hipnotizado e escravizado por telas, "Blindness" é um convite a reflexão sobre a nossa relação com a tecnologia e a realidade. As imagens revelam um cenário paradoxal: indivíduos imersos em seus smartphones, com os olhos aprisionados em universos digitais, enquanto o mundo real ao seu redor se esvai. 
A cada imagem, um retrato da cegueira voluntária que a sociedade contemporânea parece ter escolhido. Ao nos conectarmos cada vez mais profundamente com o mundo virtual, nos desconectamos do presente. As ruas, antes palco de interações e encontros fortuitos, transformam-se em um labirinto de olhares presos, dopados, onde a solidão e o isolamento se manifestam em meio à multidão.
Aqui cabe um parênteses: nunca foi tão fácil fotografar alguém na rua sem ser percebido. Ninguém me via. Era como se eu fosse invisível. ​​​​​​​
O ensaio não é uma denúncia e nem tem a pretensão de vilanizar o celular e as redes sociais. Afinal, a tecnologia, por si só, não é a vilã da história. A questão reside no uso que fazemos dela. Ao nos entregarmos passivamente aos conteúdos digitais, perdemos a oportunidade de vivenciar plenamente o mundo que nos cerca, de construir relacionamentos autênticos e de explorar a riqueza da experiência humana.
Back to Top